SCP-999-PT:Mad Reality.

Dia primeiro de janeiro de 1999. Um dia antes da virada do milênio e,coincidentemente,a data de meu célebre aniversário. Essa data dia ficará marcada negativamente em meu cérebro até o dia que o último buraco negro evaporar e o universo se tornar plena escuridão.
Sou um funcionário da Fundação há muito tempo. Conheço inúmeras pessoas daquele lugar,desde o mais podre e medíocre até o que detém do maior status e soberania. Antes de chegar a esse patamar,era um pobre coitado usado para diversos testes. Devido a minha sorte e conhecimento,sobrevivi a todos esses testes e fui subindo de reputação por causa de tudo que eu podia oferecer para o lugar com pesquisas e outros tipos de atividades.
Em certo ponto,comecei a ganhar mais status. Eu não era mais alguém que era usado para testes ou coisa do tipo. Eu não precisava mais lidar com estátuas de concreto com tinta em seus rostos,lagartos difíceis de assassinar por algum motivo,doutores da peste negra,mascarás que cospem gosma…Tudo aquilo havia sumido. Os meus dias não se quebravam mais e todos na Fundação elogiavam meu desempenho nas horas vagas e seguras. Todos falavam de Mihiyad Çalhanoglu. Aquilo era um paraíso. Eu conduzia minhas próprias pesquisas e era eu quem tinha cobaias agora. Isso pode parecer doentio,mas acredite,é prazeroso. É prazeroso saber que atingiu um patamar tão alto e que todo o seu conhecimento serviu para algo.
No dia 30 de dezembro de 1998,eu fui direcionado para conduzir a maior pesquisa de todos os 29 anos de idade que eu tinha no momento. Eu fui incentivado a comandar uma equipe de 5 pessoas para estudar,segundo os superiores,um objeto esférico e sólido de grande porte que havia sido encontrado no Alasca. Embora a minha personalidade arrogante e convencida comanda-se meus sentimentos,devo admitir que estava completamente ansioso. Não conhecia ninguém de minha equipe,mas isso não importava.
No dia 31 de dezembro de 1998,fomos estudar o objeto. Ele estava no Sítio-07 e não demorou tanto para eu e minha equipe chegarmos até lá. Assim que o vi,fiquei estupefato com o seu enorme brilho e aparência. Ele parecia ser feito de um composto semelhante à prata e estava em perfeita preservação. Pelo que observei,a reação de minha equipe foi a mesma que a minha. O objeto apresentava em seu centro uma espécie de escotilha. Deduzi brevemente utilizando a logica de uma criança de 7 anos que ela levaria ao interior do objeto. Quis checar se era possível abrir a escotilha e,a medida que eu me aproximava dela,uma vontade crescia em minha. A vontade que eu tinha era de abrir a escotilha,pois se não algo péssimo aconteceria. Logo avisei minha equipe e disse para alguém me dar cobertura por trás,uma vez que essa vontade podia estar vindo de uma anomalia dentro do objeto. O meu ajudante estava com um arma bem atrás de mim e tinha total permissão minha para atirar.
Ao abrir a escotilha,pude visualizar uma enorme sala branca feita de um material parecido com ferro e com objetos que pareciam camas em seu centro. A sala parecia muito grande para o objeto que estávamos estudando. Não dei tanta importância para esse detalhe e autorizei a entrada do resto da minha equipe no interior do objeto. Ao entrarmos,sentimos uma temperatura ambiente baixa e úmida que chegava a incomodar bastante. Obviamente,fui checar o que eram as supostas camas no centro. Quanto mais me aproximava,mais aquelas coisas se pareciam com camas. Quando me aproximei o suficiente,percebi que as "camas" eram 5 compostos de vidro em formas de cilindros. Eles estavam sem nenhum tipo de deterioração. Havia uma espécie de tampa em sua parte superior,a qual podia ser aberta facilmente sem o uso de muita força. Logo percebi que eu estava certo. Essas coisas realmente eram como se fossem camas. Eu tinha a certeza de que alguém que não tivesse um peso tão elevado conseguiria se encaixar na lá dentro e que ainda sobraria um espaço.
Chamei o meu companheiro de equipe que aparentava ter um peso mais adequado e ordenei que ele entrasse em uma dessas coisas. Ele não reclamou e apenas obedeceu. A tampa do cilindro foi aberta e o meu companheiro conseguiu entrar. Assim que ele entrou,enormes feixes de luzes de cor violeta surgiram e se direcionaram ao cilindro. Os feixes nos cegaram e,por um breve momento,ouvimos um grito de dentro do cilindro. Após toda aquela luz sumir,abri rapidamente aquela coisa e percebi que não havia ninguém lá. Nenhum rastro de um único ser humano.
Eu fiquei perplexo ao perceber a situação. Tentei manter a calma ao máximo e pensar no próximo passo que eu daria. Relatei naquele momento à equipe o que havia acontecido com o nosso membro e eles tiveram uma reação apavorada. Disse para que se acalmasse e que,se tudo fosse ocorrer como eu estava pensando,todos nós 5 teríamos de fazer o mesmo. Eu tinha um grande pressentimento de que o meu companheiro de equipe não havia morrido. Minha maior certeza era essa. Provavelmente ele havia sido levado para outro lugar. Que lugar? Eu não fazia a mínima ideia,mas eu sabia que tinha que descobrir,uma vez que tínhamos uma pesquisa a cumprir. Eu estava agachado e me levantei. Disse à todos presentes naquele lugar o que eu tinha em minha mente e que deveríamos fazer. Todos ficaram quietos e me escutaram. No dia seguinte,primeiro de janeiro de 1999,nos iríamos entrar nesses cilindros e veríamos se o que aconteceu com o nosso companheiro iria acontecer conosco. Caso acontecesse,todos teríamos de estar preparados para o pior. Ninguém presente manifestou oposição. Todos concordaram e eu achei particularmente ótimo. Dispensei todos e avisei para que se preparassem para o fatídico dia…Bem,mal sabia eu o que estava por vir e o quanto eu ainda estava despreparado e imaturo mentalmente e profissionalmente.
Ao amanhecer,todos nós estávamos presentes no interior do objeto esférico. Todos estavam preparados e armados com rifles,uma vez que tudo poderia acontecer caso fossemos para um lugar diferente daqui e nos separássemos(nada garantia que ficaríamos unidos após os feixes de luz). Assim,quando todos se preparam e se encorajaram,entramos nos cilindros. Tudo o que eu pensava era na possibilidade de eu poder morrer naquele exato momento. Outra possibilidade que me perturbava era a de ir para um lugar completamente diferente,do qual eu não sabia de nada e corria o enorme risco de vir a óbito. Mesmo sob essa pressão,comecei a esquecer desses detalhes ao perceber fortes feixes de luz violeta que cegavam com facilidade em minha face. Senti uma extrema dor e ardência em todo o meu corpo. Posso dizer que foi a pior dor física de minha vida. A cada segundo que se passava,eu sentia que partes de meu corpo sumiam consecutivamente. Em certo ponto,eu desmaiei. Desmaiei pelo que pareciam meses infinitos. Admito que foi bom ter desmaiado para cessar aquela dor por um momento,embora uma dor psicológica pior que essa dor física estivesse por vir.
Ao acordar,acordei em um lugar com solo úmido e com compostos semelhantes em diversos aspectos com a grama. Estava de noite e uma espécie de Lua roxa brilhava muito no céu,quase o clareando. Em minha frente,havia cerca de três arbustos belos e com folhas extremamente verdes. Já ao meu lado,vi algo desesperador. Eu vi uma companheira de equipa minha chorando sem parar e soluçando por diversas vezes enquanto tapava sua boca com sua mão direita. Ela,pelo que me lembrava,era a única pessoa do sexo feminino em toda a minha equipe,olhou pra mim fixamente. Rapidamente perguntei o que estava acontecendo em um tom de voz alto e ela me deu um soco no queixo. Fiquei nervoso,mas continuei calmo e tentei entender a situação. A garota fez o simples gesto de levantar sua mão esquerda e apontar para frente. Resolvi fazer o mais lógico e olhei além dos arbustos. Quando vi aquela cena,comecei a vomitar e tremer. Eu vi uma criatura semelhante à um ser humano em altura mas com uma largura extremamente desproporcional. Ela era feita de uma massa aparentemente gosmenta e flácida,a qual podia ser flexionada facilmente. Essa figura tinha uma enorme boca com inúmeros dentes no centro de algo que eu me recuso a chamar de fase. Ela estava utilizando dois braços incrivelmente grandes para devorar algo. Quando resolvi olhar de volta,vi que aquele algo era o nosso companheiro de equipe.
Naquele momento,percebi o quão psicologicamente fraco eu era. Percebi o quanto eu não queria estar ali e o quanto eu estava despreparado. Percebi que,comparado a essa criatura,o SCP-173 é a coisa mais bela que eu já havia visto em toda a minha vida. Percebi que o dia havia se quebrado em inúmeros pedaços. Em certo ponto,a criatura parou de devorar o nosso companheiro de equipe e deixou certos restos mortais dele com a cabeça e o braço esquerdo. A criatura cuspiu um líquido rosa no nosso companheiro e ficou parada em meio ao nada enquanto emitia um grito que me arrepiava completamente. Devido ao meu estado psicológico frágil e miserável naquele momento,eu abracei a minha companheira de equipe e sussurrei em seu ouvido:"nós precisamos fugir daqui imediatamente". Ela ainda estava chorando e apenas acenou a cabeça para cima e para baixo. Decidi que o melhor jeito de fugir seria rastejando e contando com a sorte de que nenhuma outra criatura semelhante aquela aparecesse em meio à mata que nos cercava. Ela concordou com meu plano,embora ainda muito desesperada. No momento em que estávamos prestes a tentar a nossa fuga,ouvimos um barulho. Disse para ela ignorar e ir avançando,uma vez que eu assegurava que conseguiria alcançá-la. Eu olhei por cima do arbusto e vi que os restos mortais de meu companheiro começaram se juntar de uma forma completamente medonha. O braço esquerdo se entrelaçou em sua cabeça e começou a aperta-la até barulhos de ossos estalando começaram a surgir. Após isso,a gosma que a outra criatura,que ainda estava lá parada,havia cuspido estava se solidificando um pouco. Cerca de alguns segundos depois,a gosma virou uma massa semelhante a da criatura e se juntou aos restos mortais do meu companheiro. Lá estava outra criatura. Eu vomitei novamente e comecei a rastejar. Minha companheira se virou e eu apenas disse para ela continuar sem olhar para trás uma única e maldita vez. Nós dois rastejamos lentamente enquanto houvíamos em meio a mata silenciosa as criaturas se locomoverem. Rastejamos pelo que pareciam horas. Rastejamos pelo que pareciam dias. Rastejamos pelo que pareciam meses. Rastejamos pelo que pareciam anos. Enquanto fazíamos esse ato,torcíamos para que as criaturas não nos vissem ou atravessassem os arbustos. Nós ficamos fugindo por tanto tempo que eu perdi a noção de onde estávamos. A única coisa que importava era estar longe do lugar onde estávamos e estar longe de qualquer outra criatura como aquela. Quando percebi que estávamos "seguros",resolvi conversar com a garota. Perguntei seu nome e obtive:"Sofia Klostermann Crest" como resultado. Disse que era um nome estranho,porém com seu charme. Eu também perguntei por quanto tempo ela estava acordada antes de eu acordar e ela disse que não fazia a mínima ideia,mas que pareciam que haviam se passado anos e anos apenas olhando aquela coisa devorando nosso companheiro. A nossa situação estava complicadíssima. Pelo que percebi,ela era psicologicamente muito frágil e se desesperava com facilidade. Então,resolvi não contar à ela que talvez nunca sairíamos daquele lugar e que não tínhamos a mínima ideia da onde estavam os nossos outros companheiros de equipe. Nós dois ficamos apenas parados abaixo de uma espécie de árvore por um tempo indeterminado enquanto observávamos aquela Lua roxa e brilhante. Em meio àquela noite interminável,ouvimos uma voz humana se aproximando.Nos levantamos e olhamos para o arredor. Visualizamos uma moça com roupas de trapo e com o cabelo completamente bagunçado olhando para nós. Sua aparência demonstrava uma enorme satisfação ao nos ver. Ela também aparentava estar muito,muito doente. Nós dóis apontamos nossas armas para ela e disse para ela manter uma distância e se identificar. Ela apenas disse que tinha abrigo e que tinha muitas coisas à falar. Resolvemos escutá-la brevemente e ordenamos que ela nos levasse até o suposto abrigo. Caso fosse uma armadilha,nós atiraríamos. Ela concordou e nos guiou até uma velha cabana um pouco mais a frente. Não nos importávamos com o estranho fato de que havia outro ser humano naquele lugar. Nós apenas queríamos encontrar um lugar seguro para ficar. Quando chegamos ao abrigo,havia armas,um dispositivo com uma aparência bastante tecnológica no formato de uma esfera no centro de uma mesa e mais duas pessoas que estavam dormindo com aparência de uma idade bastante avançada. O que mais me assustou foi que…Bem,o cadáver dos outros membros de nossa equipe estavam lá. Apenas isso. Eu fiquei louco naquele momento. Peguei minha arma e coloquei na cabeça da cidadã que nos guiou até o abrigo e disse para ela contar tudo o que sabia e porquê fez isso,se não eu mataria todos ali. Foi naquele momento que ela resumiu em palavras a coisa mais aterrorizante de toda a minha vida:
"Eu criei aquela coisa para fugir daqui. Foram diversos anos de estudos até que eu pudesse criar aquela esfera utilizando o que eu já tinha e o que eu encontrei. Os dois velhos ali foram envenenados por mim. Eu matei esses caras que eu encontrei antes que fosse tarde. Eu não sei se você sabe,mas todos que ficam aqui viram essas criaturas. O ar desse lugar é poluído por um vírus que altera as pessoas naquelas coisas. Eu matei o pessoal daqui antes que fosse tarde. Eu matei até os velhotes. Todos aqui são da SCP Foundation. Eu,você,essa garota do seu lado e todos os mortos e criaturas. Somos enviados aqui para morrer. Todos os funcionários que não tem mais função são enviados para cá com a finalidade de serem executados da pior forma possível. A cada década eles enviam mais e mais funcionários alegando que eles são especiais e que irão estudar um objeto novo descoberto no Alasca recentemente. Como sei disso? Simples,conversei com todos que já viveram aqui. Eu estou aqui desde a 1981. Os velhotes estão aqui desde 1975. Haviam duas pessoas que era da década de 60. Eles me contaram tudo. No final,todos viraram aquelas coisas,exceto os velhotes. Não se sabe quando elas viram essas coisas. É aleatório. O único jeito de evitar virar essas coisas é estando morto."
Eu fiquei paralisado. Não haviam ações humanas capazes de manifestar o quanto tudo estava sendo tão rápido e avassalado. Sofia não conseguia nem se mover. Ficamos em um melodrama tão contínuo que a moça pegou uma arma e disparou em mim. Caí no chão e gritei devido à minha dor. O tirou havia atingido uma região próxima ao meu quadril e eu admito que me arrepiei quando não consegui sentir minhas pernas. A moça iria atirar em Sofia,mas algo aconteceu…Não. Não aconteceu algo bom. Essa história não tem final feliz. Ninguém veio nos salvar. A vida real nunca será um clichê com final um final bonito. Aquelas coisas chegaram no abrigo e começaram a adentrar nela e a destruí-lo por completo. Naquele momento,aceitei meu destino. Eu estava sem o movimento das pernas e eu havia deixado a minha arma cair longe o suficiente para eu não conseguir alcançá-la. Sofia desmaiou de pavor e morreria. A moça não ligava. Ela ia pegar o dispositivo e fugir para a Terra. Seria o fim,se não fosse um mero detalhe.
Uma das criaturas acertou a moça. Ela caiu no chão e gritou em uma frequência tão alta que meus ouvidos zumbiram. No meu último suspiro e no meu mais forte ato de desespero,rastejei. Rastejei como havia feito antes. Rastejei até a mesa gritando e torcendo para a criatura não me pegar…Eu consegui. Eu agarrei o pé da mesa e a balancei. A balancei tanto que o dispositivo caiu em minhas mãos. Com lágrimas de dor nos olhos,apertei um botão azul que havia em seu centro. Um enorme feixe de luz surgiu no lugar e aquela dor voltou. A mesma dor de manhã,antes de virmos parar aqui. Eu desmaiei e abandonei Sofia. Abandonei os cadáveres de meus companheiros que,talvez,pudessem ainda estar vivos. Aquela moça podia estar apenas blefando. Bem,eu nunca saberei,afina,eu acordei. Acordei no maldito cilindro. Eu havia voltando a sentir minhas pernas e saí de lá o mais rápido possível. Ao sair do cilindro,saí do objeto. E lá estavam eles. Os agentes da fundação estupefatos com minha imagem. Eles não conseguiram se livrar de mim. Eu apenas caminhei e os ignorei. Eu estava completamente louco. Nada do que havia acabado de acontecer fazia sentido. Foi tudo tão rápido e corrido. Foi tudo forçado. Eu não sabia descrever. Eu apenas estava triste,abalado e enjoado. Eu queria sair dali. Eu queria fugir. Eu queria rir. Então eu ri. Ri demais. Ri enquanto ignorava os estúpidos agentes. Ri enquanto andava pelo Sítio-07. Ri enquanto saia do Sítio-07. Ri enquanto caminhava estrada afora. E,obviamente,eu ri quando uma massa gosmenta começou a tomar conta de meu corpo.